Todos em casa, cada um ocupado
com o seu ocupar
o pai na sala
a mãe na cozinha
a filha no quarto
o filho fervendo
na sala a TV é a dona da voz
única e respeitada
o filho espreita da
porta o homem jogado no sofá
(ah, esse menino!)
o menino interrompe o sonho-acordado da sala
(maldito! grita o pensamento do papai)
num movimento ágil – quase igual ao do filme na TV –
o pai acerta um imponente tapa no filho
gritos
gritos
gritos
na cozinha a mãe não está mais
agora na sala ela grita (com voz chorosa de mãe)
para que parem com a briga
no quarto a filha pensa resmungando
“tudo novamente, que exploda!”
(pai e filho discutem e curtem o loop de cada dia,
a mãe pela milésima vez molha os olhos,
da filha só os dedos estão deliciosamente molhados)
na TV a vida continua, incansável.
(lyard libório)