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De vagar constante

 

De novo me invade.
Quem?
A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem?
A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.

Zão-zão

mosquito zumbidor

zumbe zumbe

zumbe

e zomba,

zomba de mim

zomba de minhas mãos

que não sabem ziguezaguear

zangadas

(lyard)

Não há
no mundo nada
mais bem
distribuído do que a
razão: até quem não tem tem
um pouquinho

 

O menino ia no mato

E a onça comeu ele.

Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino

E ele foi contar para a mãe.

A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que

o caminhão passou por dentro do seu corpo?

É que o caminhão só passou renteando meu corpo

E eu desviei depressa.

Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.

Eu não preciso de fazer razão.

 

(em Tratado geral das grandezas do ínfimo)

“Outra coisa que também me parece metafísica é isto: Dá-se movimento a uma bola, por exemplo; rola esta, encontra outra bola, transmite-lhe o impulso, e eis a segunda bola a rolar como a primeira rolou.Suponhamos que a primeira bola se chama… Marcela, – é uma simples suposição; a segunda, Brás Cubas; – a terceira, Virgília. Temos que Marcela, recebendo um piparote do passado rolou até tocar em Brás Cubas, – o qual, cedendo à força impulsiva, entrou a rolar também até esbarrar em Virgília, que não tinha nada com a primeira bola; e eis aí como, pela simples transmissão de uma força, se tocam os extremos sociais, e se estabelece uma coisa que poderemos chamar – solidariedade do aborrecimento humano. Como é que este capítulo escapou a Aristóteles?”

 

( Memórias Póstumas de Brás Cubas – Capítulo XLII  Que Escapou a Aristóteles)

Enterro

Passava a mão delicadamente pelo velho vestido. Seus olhos estavam molhados, o passado jorrava, como a água da torneira. Ela se levantou, olhou através da janela as crianças, ainda estavam lá. O tempo estava se abrindo, o sol brilhava com alguma timidez, mas não para ela. Voltou ao canto do quarto, o aparelho de som ligou, primeiro não compreendia qual era a música, o volume começou a aumentar gradativamente e o que antes era quase um ruído tornou-se compreensível, era uma velha marchinha de carnaval, cujo nome não vinha à cabeça.

Transbordava-se em passado. Estava imóvel já fazia algum tempo. Despiu-se, olhou seu corpo refletido no espelho. Começou acariciá-lo, quando passava as mãos pelos seios percebeu entre eles um furo. Penetrou-o com seu dedo indicador, que indicava qual a profundidade do buraco. A música mudou, agora ressoava uma guitarra estridente. Uma chuva forte começou. Agora já havia colocado a mão inteira dentro de si. Ouviu um grito cortante. Ficou estática.

A sirene soou, no chão do quarto estava o corpo já morto. Enfim, mais um enterro para irmos. 

 

(lyard)

 

uma pedrinha rolou do morro

e já foi motivo para os devaneios do velho

que irritado já foi gritando:

– !!!!!!

 

não, não há motivos para repetir o que ele disse,

mas a pedrinha ainda rola todos os dias

e o velho continua irritado

(e eu bebo mais uma cerveja ,

esperando a guerra passar

ad infinitum)

 

(lyard)

José é comprometido. Acorda cedo, reza e cumpri as regras matinais com a mesma disposição dos carros na rua. Zézinho tem 13 anos e trabalha todos os dias, todos os dias mesmo. Na escola só foi algumas vezes e lembra que até gostava do lugar e das pessoas, mas era peça sobrando no motor. Bem cedinho começa a trabalhar, com muito dever, trabalha em semáforos, esquinas, portas de comércios, praças e em outros não-lugares escolhidos a esmo. Depois de tempos trabalhando o menino juntou grana o suficiente para comprar uma TV, o objeto era um presente para Dona Crica, sua mãe, avó, madrasta, pai, tia, irmã, avô, professora, patroa… O objeto encantou muito a sofrida senhorinha e logo ela descobriu como usar aquela velha TV. Sim, a TV funcionaria muito bem como uma quase-escora para a querida penteadeira de Dona Crica. Zé ficou muito orgulhoso de si e feliz pela felicidade que havia promovido. Então sonhou acordado, “como seremos felizes quando a energia elétrica chegar!”

(lyard libório)