De vagar constante
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
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mosquito zumbidor
zumbe zumbe
zumbe
e zomba,
zomba de mim
zomba de minhas mãos
que não sabem ziguezaguear
zangadas
(lyard)
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Não há
no mundo nada
mais bem
distribuído do que a
razão: até quem não tem tem
um pouquinho
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“Outra coisa que também me parece metafísica é isto: Dá-se movimento a uma bola, por exemplo; rola esta, encontra outra bola, transmite-lhe o impulso, e eis a segunda bola a rolar como a primeira rolou.Suponhamos que a primeira bola se chama… Marcela, – é uma simples suposição; a segunda, Brás Cubas; – a terceira, Virgília. Temos que Marcela, recebendo um piparote do passado rolou até tocar em Brás Cubas, – o qual, cedendo à força impulsiva, entrou a rolar também até esbarrar em Virgília, que não tinha nada com a primeira bola; e eis aí como, pela simples transmissão de uma força, se tocam os extremos sociais, e se estabelece uma coisa que poderemos chamar – solidariedade do aborrecimento humano. Como é que este capítulo escapou a Aristóteles?”
( Memórias Póstumas de Brás Cubas – Capítulo XLII Que Escapou a Aristóteles)
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Passava a mão delicadamente pelo velho vestido. Seus olhos estavam molhados, o passado jorrava, como a água da torneira. Ela se levantou, olhou através da janela as crianças, ainda estavam lá. O tempo estava se abrindo, o sol brilhava com alguma timidez, mas não para ela. Voltou ao canto do quarto, o aparelho de som ligou, primeiro não compreendia qual era a música, o volume começou a aumentar gradativamente e o que antes era quase um ruído tornou-se compreensível, era uma velha marchinha de carnaval, cujo nome não vinha à cabeça.
Transbordava-se em passado. Estava imóvel já fazia algum tempo. Despiu-se, olhou seu corpo refletido no espelho. Começou acariciá-lo, quando passava as mãos pelos seios percebeu entre eles um furo. Penetrou-o com seu dedo indicador, que indicava qual a profundidade do buraco. A música mudou, agora ressoava uma guitarra estridente. Uma chuva forte começou. Agora já havia colocado a mão inteira dentro de si. Ouviu um grito cortante. Ficou estática.
A sirene soou, no chão do quarto estava o corpo já morto. Enfim, mais um enterro para irmos.
(lyard)
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uma pedrinha rolou do morro
e já foi motivo para os devaneios do velho
que irritado já foi gritando:
– !!!!!!
não, não há motivos para repetir o que ele disse,
mas a pedrinha ainda rola todos os dias
e o velho continua irritado
(e eu bebo mais uma cerveja ,
esperando a guerra passar
ad infinitum)
(lyard)
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José é comprometido. Acorda cedo, reza e cumpri as regras matinais com a mesma disposição dos carros na rua. Zézinho tem 13 anos e trabalha todos os dias, todos os dias mesmo. Na escola só foi algumas vezes e lembra que até gostava do lugar e das pessoas, mas era peça sobrando no motor. Bem cedinho começa a trabalhar, com muito dever, trabalha em semáforos, esquinas, portas de comércios, praças e em outros não-lugares escolhidos a esmo. Depois de tempos trabalhando o menino juntou grana o suficiente para comprar uma TV, o objeto era um presente para Dona Crica, sua mãe, avó, madrasta, pai, tia, irmã, avô, professora, patroa… O objeto encantou muito a sofrida senhorinha e logo ela descobriu como usar aquela velha TV. Sim, a TV funcionaria muito bem como uma quase-escora para a querida penteadeira de Dona Crica. Zé ficou muito orgulhoso de si e feliz pela felicidade que havia promovido. Então sonhou acordado, “como seremos felizes quando a energia elétrica chegar!”
(lyard libório)
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