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Archive for fevereiro \28\+00:00 2010

10.

Se se tem necessidade de fazer da razão um tirano, como Sócrates o fez, então o risco de que outra coisa faça-se tirano não deve ser pequeno. A racionalidade aparece outrora enquanto Salvadora; nem Sócrates, nem seus “doentes” estavam livres para serem racionais. Ser racional foi o seu último remédio. O fanatismo, com o qual toda a reflexão grega se lança para a racionalidade, trai uma situação desesperadora. Estava-se em risco, só se tinha uma escolha: ou perecer, ou ser absurdamente racional… O moralismo dos filósofos gregos desde Platão está condicionado patologicamente; do mesmo modo que sua avaliação da dialética. A equação Razão = Virtude = Felicidade diz meramente o seguinte: é preciso imitar Sócrates e estabelecer permanentemente uma luz diurna contra os apetites obscuros – a luz diurna da razão. É preciso ser prudente, claro, luminoso a qualquer preço: toda e qualquer concessão aos instintos, ao inconsciente conduz para baixo

(Friedrich Nietzsche – Crepúsculo dos Ídolos)

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Nem eu posso com Deus nem pode ele comigo.

Essa peleja é vã, essa luta no escuro

entre mim e seu nome.

Não me persegue Deus no dia claro.

Arma, à noite, emboscadas.

Enredo-me, debato-me, invectivo

e me liberto, escalavrado.

De manhã, à hora do café, sou eu quem desafia.

Volta-me as costas, sequer me escuta,

e o dia não é creditado a nenhum dos contendores.

Deus golpeia à traição.

Também uso para com ele táticas covardes.

E o vencedor (se vencedor houver) não sentirá prazer

pela vitória equívoca.

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Num testamento de quem testa
o   testemunho d´um amor medido
e metido na mente de quem mede
o  modo de amar contido

e contendo a conta exata
conto com a controvertida e sensível forma do amor
não  sem sal
mas sem sentido
sendo sempre
o que é.

(Lyard)

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“Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. “Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.”

Albert Camus – O Mito de Sísifo


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Millôr Fernandes

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ai de mim, aipim.
ô inhame, a batata é uma puta barata. deixa
ela pro nabo nababo que baba de bobo. transa
uma com a cebola.
aquele hálito? que hábito! me faz chorar.
então procura uma cenoura.
coradinha, mas muito enrustida.
a abóbora tá aí mesmo.
como eu gosto de abóbora.
então namora uma.
falô. vou pegar meu gorrinho e sair poraí pra
procurar uma abóbora maneira
té mais, aimpim
té mais, inhame

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Olhos, bocas, paredes, sexo,
caixas, carros, periquitos, sonhos,
lixeiras, tesoura, dedos, gozo,
…,…,…,…,
_,_,_,_,_,

matéria-prima
opus-magnum


Papel, livro, lápis,
caderno, blocos, canetas,
panos, penas, tinta,

serenidade/dessência
irresponsabilidade/acertos
linha/corte
…/…

mistura-se tudo,
antes era com as mãos,
hoje preferem as batedeiras,
procure a forma ideal:
eis o poeta,
fez-se a poesia.

(Lyard)

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O que


(se) foi


é (s)ido.

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Desci as escadas afoito. Não me lembrava bem de como havia ficado tantas horas naquele apartamento, lembrava apenas de ter sido convidado por Ralf Furkäns, um renomado enólogo de origem alemã, para experimentar um novo tipo de vinho, que segundo ele fora descoberto numa quinta da região. Cheguei no horário combinado, o táxi me deixou a alguns metros do moderno e imponente edifício Santo Antão. Havia uma inscrição na porta indicando para entrar em silêncio, empurrei a suntuosa porta de vidro, o ambiente era muito escuro. Pude ouvir quando Funrkäns disse para subir.
Procurava um interruptor e acabei esbarrando numa frágil e empoeirada mesinha, que provavelmente havia servido para um porteiro. De repente uma fraca luz iluminou o ambiente, pude ver então que o interior do prédio contrastava imperiosamente com o seu exterior. O lugar parecia sujo, as paredes cobertas por uma espessa camada de bolor, ao caminhar percebia as irregularidades do chão, senti calor. Novamente Furkäns gritou para que eu subisse, seu tom era autoritário e por um instante me senti constrangido por estar ali.


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