Passava a mão delicadamente pelo velho vestido. Seus olhos estavam molhados, o passado jorrava, como a água da torneira. Ela se levantou, olhou através da janela as crianças, ainda estavam lá. O tempo estava se abrindo, o sol brilhava com alguma timidez, mas não para ela. Voltou ao canto do quarto, o aparelho de som ligou, primeiro não compreendia qual era a música, o volume começou a aumentar gradativamente e o que antes era quase um ruído tornou-se compreensível, era uma velha marchinha de carnaval, cujo nome não vinha à cabeça.
Transbordava-se em passado. Estava imóvel já fazia algum tempo. Despiu-se, olhou seu corpo refletido no espelho. Começou acariciá-lo, quando passava as mãos pelos seios percebeu entre eles um furo. Penetrou-o com seu dedo indicador, que indicava qual a profundidade do buraco. A música mudou, agora ressoava uma guitarra estridente. Uma chuva forte começou. Agora já havia colocado a mão inteira dentro de si. Ouviu um grito cortante. Ficou estática.
A sirene soou, no chão do quarto estava o corpo já morto. Enfim, mais um enterro para irmos.
(lyard)